1. |
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pensei na morte sem querer
com uma espécie de alívio
precisei pensar de novo
pra não pensar nunca mais
quase uma idéia obrigatória
pra quem ta no meio do caminho
mas tem certeza absoluta de que o caminho acaba lá
foi pra poder saber o tamanho do meu medo
foi pra poder medir o tamanho da minha solidão
dizer adeus sem nunca ter se despedido
é crueldade de quem não tem compaixão
fui por meus pés na beira do abismo
pra ver de longe o que restou do meu coração
agora que você partiu entendi que não tenho medo nenhum
agora que você se foi, minha solidão ruiu
dizer adeus sem nunca ter se despedido
é crueldade de quem não tem compaixão
levei meus pés pra beira do infinito
pra ver de longe o que restou do meu coração
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2. |
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quero esquecer
a bomba lançada, o corpo no chão
um tiro no olho
um na cara da velha
o rapaz de joelhos e o garoto no camburão
o cara de bici na grama
a fumaça subindo, mais gente no chão
o sangue lavando o cabelo
os olhos trincando
e a cara de raiva do cana com o porrete na mão
quero esquecer mas não vou
quero esquecer mas não vou
quero esquecer
a bomba estourada
o ferro na mão
o grito do cana
o medo da velha
o casal apanhando
o menino no camburão
a bici jogada na grama
o nego lutando, com a cara no chão
o asfalto ficando vermelho
a calçada voando
e a coragem do mano pedindo calma pro pelotão
quero esquecer mas não vou
quero esquecer mas não vou
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3. |
vendo-me
03:07
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tenho um mar dentro de mim
tenho um sol dentro de mim
uma montanha dentro de mim
uma tempestade,
um furacão e uma curva de rio
tenho uma cidade dentro de mim
uma ponte
uma calçada
um meio fio
um som
uma lembrança vaga
tenho um mar dentro de mim
tenho um tempo que passou
uma ilha
e um sentimento de perda
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4. |
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quatrocentas vezes te impedi
outras tantas vezes disse não
muitas outras vezes repeti
vou deixar de ser
casa, morada, um lugar
vento, açúcar e sol
noite, madrugada e sereno
vou deixar tudo lá
cada canto com seu segredo
cada quarto de hotel
todo traço de desespero
corpo, sossego e perdão
muro, escotilha, espelho
janela, pilar, maresia
não corro na porta pra olhar
não vejo você pelo espelho
não olho pra trás
respirei
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5. |
bilhete para um suicida
03:26
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perdi você de vez naquela manhã
teu corpo frio ali já sem você
por que o silêncio assim
não se agarrar no amor
por que morrer enfim, na solidão
será que foi feliz
será que perdoou
será que me contou e eu não ouvi
triste canção
de amor e solidão
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6. |
menino
02:51
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menino
olhando de lá
olhando de cima e de longe
ele é um ponto que passa
olhando daqui
o ponto é um homem que faz seu caminho devagar
vai descendo sem pensar
olha o céu de relance, fechou
salta para desviar
segue firme seu rumo
some no metro
olhando pra lá
por trás da vidraça
um homem que pede por favor
um outro que grita e se espalha
pra um monte de outros que esperam a vinda de um novo salvador
cruza a rua sem olhar
num instante ta vivo
noutro vira fumaça
senta para respirar
que cidade doída
que povo sem calor
olha só, meu amor, já faz tempo
que o menino sumiu
e ninguém nem notou
já faz tempo
que a cidade ruiu e ninguém notou
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7. |
casco
03:29
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é como um casco que derrete na água
que sempre o segurou
é um silêncio doído
é o silêncio do tempo
corroendo cidades, palavras, pessoas
se não é em silêncio não é o tempo
é a falta
é a farsa
é a raiva
é o destempero
há muito tempo grito pra calar o silêncio que está dentro de mim
há muito tempo grito pra calar o silêncio que está dentro de mim
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8. |
ausência
03:07
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as crianças sádicas
e os panelões de sopa
são inofensivos
diante desta
gaiola vazia
a covardia e a coragem
a dignidade e a desonra
são variantes
da cor
da gravata
do palhaço
se comparadas a esta
gaiola vazia
eu posso amar
ou destruir
minha existência
– o que quer que eu faça
não altera em nada
a gaiola vazia
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9. |
cada vez mais triste
03:01
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minha mãe está cada vez mais triste
minha irmã está cada vez mais triste
meu pai está cada vez mais triste –
embora esteja mais alegre também –
minha sobrinha está cada vez mais triste
e até meu cunhado está mais triste
se minha avó estivesse viva estaria triste
minha avó que está viva está muito triste
meus tios disfarçam mas é evidente
que sentem o rosto murcho de tristeza
sobre meus primos prefiro não falar
passam as noites definhando sobre a lua
e meu avô só não está mais triste
porque está morto e quando estava vivo
era o homem mais triste deste mundo
se eu tivesse um filho ele seria triste
se fosse a alegre ficaria triste
e mesmo que odiasse sua tristeza
nunca seria nada mais que triste
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10. |
um dia
02:46
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um dia
um poste um prédio um ponto um prego um pare um passe um pisa
um prende um pico um pau um porto um posto um poço um peixe um passo
um peito
um disse um diz um dá um deve um doido um dolo um dado
um dente um disco um dito um duto um drops
um dia
desce a rua devagar
cruza a cidade sem medo
desce sem olhar pra trás
cruza a cidade sem medo
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edu marin Sao Paulo, Brazil
Visual Artist and songwriter from são paulo, brasil
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